Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Nascer, crescer e florescer em Nova Iorque não é para todos, mas, mesmo assim, é para muitos – e alguns terão mais sorte do que outros nessa jornada. Filho de pai porto-riquenho e mãe irlandesa, Wiki é um dos sortudos a quem calhou essa lotaria de viver na primeira pessoa uma cidade que já foi imortalizada de tantas formas e feitios nos mais diferentes meios, desde o cinema à música – neste último tipo de expressão, o próprio vai deixando a sua informada visão dos acontecimentos. E ele é tão nova-iorquino como é humanamente possível sê-lo; perceber isso é meio caminho andado para compreendê-lo e aos seus versos. Nova Iorque desempenha um papel realmente importante em tudo o que fez e faz, desde servir de base à formação dos RATKING – grupo que tanto se inspirava nos Suicide como nos Wu-Tang Clan e que lhe deu o impulso inicial e decisivo para a sua carreira numa fase em que ainda descobria o que era ser adulto – até ao título do seu álbum de estreia a solo, No Mountains in Manhattan (2017), uma frase que ouviu em Mean Streets (1973), um filme de Martin Scorsese que recorre a esse pano de fundo tão multifacetado que é NYC.
A capacidade de Wiki de ser o narrador dessas ruas (que vão sofrendo um choque violento entre os que entram sem sentido real de comunidade e os locais de sempre que vão sendo empurrados para fora) ganhou formas mais definidas em Half God (2021), disco feito em colaboração com Navy Blue, o beatmaker de serviço nesta empreitada que acrescentou mais uma camada à sua sólida discografia. O amadurecimento depois de ter feito uma década a praticar a arte da rima e a chegada iminente aos 30 anos (em Outubro próximo celebrará esse aniversário redondo) deram-lhe as bases para fazer uma faixa como “The Business” – é escutar atentamente as barras e perceber que há algo de muito universal no que está a rimar sobre gentrificação. E às vezes é mesmo necessário viver as situações com outra maturidade (e sobriedade) para poder relatá-las com propriedade. Quando agora pega num microfone, o rapper com a já emblemática falha nos dentes fá-lo com cada vez maior honestidade e frontalidade (à boa maneira nova-iorquina, chamemos-lhe assim).
Seja em cima de beats de Sporting Life, Madlib, Kaytranada, Slauson Malone, The Alchemist, DJ Shadow, Subjxct 5 e NAH, a cuspir ao lado de MCs como Ghostface Killah, Earl Sweatshirt, Skepta (sim, existe mesmo uma versão oficial de “That’s Not Me” com Patrick Morales), Denzel Curry, MIKE, Your Old Droog ou a colaborar com músicos tão diversos como King Krule, Duendita, Obongjayar, Emma-Jean Thackray e Richard Russell, o único limite estilístico para Wiki parece ser o seu esclarecido bom gosto – só assim é possível termos projectos como o experimental Telephonebooth, o maduro Half God, o divertido e descomprometido Cold Cuts e o EP “pela cultura” One More num espaço de dois anos. Um catálogo que já merece (e mete) muito respeito. Alexandre Ribeiro
Abertura de Portas
21h00