Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Lucrecia Dalt
A singularidade de Dalt é algo que se tem vindo a manifestar com fascínio. É seguro afirmar que cada álbum aporta novas linguagens e interpretações a um corpo musical em constante reconhecimento. Disposta a explorar terrenos sónicos, sem esquecer a origem telúrica, a energia catalisadora das suas peças abre fendas e provoca brechas ao próprio conceito de composição, tal como amplamente o conhecemos. Meticulosa nos pormenores e maximalista nos resultados, a colombiana, outrora engenheira civil, trata as potencialidades do som e das emoções com elevado grau de exotismo; sempre enigmática nas formas, mas tão profundamente familiar na alma como expõe este mundo novo diante de nós.
Os seis discos que assinou em nome próprio até ao momento são todos eles essenciais, representando não só um capítulo chave distinto, mas – acima de tudo – uma leitura global de um percurso revelador de uma nobreza rara. Numa discografia extensa, e até obscura na sua fase inicial, muitos serão os exemplos de retratos de uma terra incógnita, ainda por mapear. Na área das colaborações, Dalt é igualmente exímia: com F.S Blumm ofereceu-nos uma viagem lo-fi inesquecível em Quatro Covers; com 1/3 dos Wolf Eyes, Aaron Dilloway, fez-nos aterrar num brilhante sonho psicadélico alienígena chamado Lucy and Aaron; e ainda sobrou charme para se entregar à banda sonora da série televisiva da HBO, The Baby. ngulos imprevisíveis, e no entanto, extra-complementares, de uma artista em infinita expansão.
O futurismo pop, jazzístico, ou o que quisermos chamar, que simboliza o mais recente ¡Ay! reveste esta obra de Lucrecia Dalt em veludo. Desconcertante, sensual e intrigante, a voz surge aqui (mais que nunca) como elemento condutor. Paisagens sombrias a recordar Tom Waits ou Lhasa de Sela, que se mutam em alquimias neo-industriais, a meio caminho do bolero e da expressividade textural das máquinas e pedais. Um disco de contos, fábulas e outras alucinações sem tempos nem geografias à vista. Nesse aspecto, poderá considerar-se intemporal e sempre genuínamente transgressor. Nunca Dalt chegou a este ponto de liberdade. Um desprendimento absoluto que encontra simultaneidade numa certa revisitação às suas raízes culturais. Ideias difusas talvez, porém só e apenas indicadoras de uma obra inspirada, refrescante e, em última estância, difícil de definir. Não será à toa que conquistou o título de disco do ano para a conceituada revista Wire, entre tantas outras distinções em publicações de renome. Uma rainha que regressa à ZDB em estado de graça. Presença mais que obrigatória num dos concertos mais esperados de 2023. NA
Abertura de Portas
21h