Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
«Se te lembras dos anos sessenta, é porque não os viveste», já dizia o Paul Kantner dos Jefferson Airplane. Mas graças a discos introspectivos como Ode to Quetzalcoatl de Dave Bixby, com 500 cópias editadas em 1969 através de um culto religioso em Michigan conhecido apenas como The Group, podemos ter um vislumbre do quão cerradas eram as brumas psicadélicas do final da década.
Disco confessional, considerado por muitos o representante por excelência do subgénero loner folk, Ode to Quetzalcoatl é o testemunho de alguém que caiu no abismo do consumo excessivo de drogas – «Life used to be good / Now look what I’ve done / I’ve ruined my temple with drugs» («Drug Song») – e que, qual fénix erguendo-se das cinzas, regressou com uma mensagem de esperança e redenção espiritual – «World can’t you see / That the Truth has set me free / And I am free indeed because He said so» («Free Indeed»).
Nascido e criado na cidade de Grand Rapids, Dave Bixby começou ainda em adolescente a tocar em conjuntos de folk e bandas de garagem. No verão de ’66 aproveitou a liberdade trazida pelo seu primeiro carro e andou por praias e cafés com uma guitarra acústica de 12 cordas, embrenhando-se na emergente cultura hippie. Porém, durante o último ano de liceu, aquilo que parecia um sonho de emancipação juvenil tornou-se um pesadelo: desenvolveu um consumo diário de LSD e abateu-se sobre ele uma nuvem de apatia e confusão que tornou distante tudo o que antes lhe era familiar e indiferente tudo o que antes o motivava (à semelhança, aliás, do que acontecera com tantos outros músicos da altura, como Syd Barrett, Skip Spence, Roky Erickson, etc.) .
Foí aí que um colega de banda o introduziu a um culto religioso empenhado em acudir jovens desnorteados pelo consumo excessivo de drogas através do poder das escrituras; cortou o cabelo comprido e rapidamente assumiu liderança no culto, mas a sua súbita conversão foi recebida com suspicácia pelos familiares e amigos próximos, intensificando a sua sensação de alienação e isolamento. Até que, no inverno de 1968, quando regressava a casa de um concerto, o motor do seu carro morreu e, num momento de profundo desespero, deitou-se à beira da estrada sobre a neve, prestes a deixar-se morrer ao relento gelado. Porém, e eis o busílis desta história, uma experiência mística resgatou-o: «David, estou contigo, e tenho estado desde o início», disse-lhe Jesus Cristo em presença espiritual.
Inspirado pela aparição do Messias, Bixby fechou-se em casa mês e meio e compôs as canções que viriam a constituir Quetzalcoatl e o posterior Second Coming. Don DeGraaf, o fundador d’O Grupo, impressionado pela mensagem espiritual das suas composições, convidou-o a tocar nos encontros do culto, em igrejas e em liceus, o que resultou na recruta de novos membros e na produção do disco em questão: montaram dois microfones na sala de estar de DeGraaf e gravaram as canções em take directo através de um gravador de fita com um efeito de eco incorporado, muito responsável pela sonoridade remota e depressiva que caracteriza o disco. Depois, as 500 cópias foram distribuídas pelos membros do culto e vendidas na rua directamente das bagageiras dos seus carros.
Numa de apenas seis paragens pela Europa, a visita de Dave Bixby ao Aquário da ZDB é um momento assinalável e imperdível. Como o próprio disse em reacção à redescoberta da sua música: «Estou incrédulo com isto desde o início. É incrível porque eu não fiz mais que plantar umas sementes e virar-lhes as costas. […] Tenho que reconhecer que há aqui algo maior que eu e que isso é excitante. Tenho que segui-lo.» AR
Abertura de Portas
21h00