Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Marlene Ribeiro e Inês Malheiro
Os ecos do universo sonoro de Marlene Ribeiro há muito que se fazem sentir – e desde diversos pontos. Conservando uma aura enigmática num trabalho de busca de expressões, sentimos um constante fluxo de energia telúrica a meio caminho com a fantasia. Enquanto membro dos míticos Gnod, fez crepitar algum do melhor psicadelismo dos nossos dias; com Negra Branca, soprou o fogo e fez das cinzas um novo ritual. O primitivismo folk e as visões kraut sedimentaram um terreno arenoso que ainda albergou colaborações com Valentina Magaletti (no brilhante Due Matte), Charles Hayward, Temple Ov BBV ou ainda Thurston Moore. Já este ano, Toquei no Sol é um disco que revolve as memórias e as raízes de Ribeiro, entrelaçando-as num manto sub-sónico de diferentes retalhos, cores e formas. Com elementos melódicos mais presentes que nunca, a luz surge por onde menos se espera. Seja na ebulição das micro tonalidades, nas captações de campo e até nas toadas nebulosas mais densas. Surge assim um conjunto de retratos imaginários de um tempo e espaço em suspensão e entendimento. Mais que necessário, talvez fosse mesmo urgente, voltar a sentir esta estirpe de letargia beatífica nas nossas cabeças.
Por outro lado, a insularidade da obra de Inês Malheiro tem vindo a manifestar-se de um modo muito genuíno. Pela voz canaliza ideias e simbologias encantatórias; complexas sim, mas inatas na sua origem e demanda. Fascina através desse contacto imediato, que nos agarra e nos puxa, para uma espécie de realidade paralela fugaz. Deusa Náusea soube, desde logo, tomar os sentidos de assalto, deixando o instinto descortinar os múltiplos cenários labirínticos. Malheiro cria e usa uma linguagem de recursos infinitos, por vezes tão díspares quanto familiares. Movimenta-se nesse fino fio que baliza a especulação e o real; na verdade, extrai dele um punhado de possibilidades criativas bem à deriva do raciocínio linear.
Duas vozes que nesta noite se apresentam a solo e em conjunto, num raro momento de partilha de palco resultante de uma residência no Porto. Encontro magnético por natureza, certeiro no instante epocal em que acontece e prometedor de uma estranha magia vital. NA
Abertura de Portas
21h30