Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Claire Rousay
Presença meio que insular na experimentação de hoje, a artista norte-americana tem desafiado a percepção coletiva de música ambiental - e mais além. Percussionista feroz, foram muitas em digressões acompanhando outros músicos e multiplicando-se em colaborações no fervilhante circuito do free-jazz e noise. Durante a pandemia, e sem concertos, entregou-se às possibilidades digitais. Figurou em diversos concertos a solo de formato streaming, sempre enigmáticos e profundamente intimistas. Começou a operar com programas como o Ableton enquanto reunia captações sonoras de momentos em casa ou na natureza. Se por um lado, a noção composicional tem sido uma constante, por outro, a diversidade de origens, cenários e expressões coloca-a num fabuloso limbo das coisas. Explorar a ambiguidade do mundo sob emoções complexas tornou-se uma de muitas perspetivas reveladas pelo irreverente trabalho de Rousay.
Com uma numerosa série de edições essencialmente em fita magnética ou vinil, A Softer Focus obteve uma projeção inédita. Um álbum que se respira, mais do que se escuta, cuja diluição de harmonias, sons e silêncios apresenta uma forma muito própria de estar e criar. O uso da voz é outro elemento tão basilar quanto antagónico; dos discursos despidos às vezes a recordar a clarividência de Laurie Anderson até aos quadros pop em que o registo auto-tune se derrete até a ser mera poeira cósmica. Surpreender é uma capacidade inerente à arte viva de Claire Rousay que nos confronta e nos conforta - dir-se-ia até, em semelhantes proporções. Enquanto devota do lado sensorial da música, encontra igual potencialidade quer em ditos instrumentos, quer em objectos do dia-a-dia, dificilmente imaginados enquanto fonte de som. Uma já imensa discografia que não cessa de acrescentar matéria e que representa algo como uma espécie de arquivo real deste tempo de agora.
Estas e outras ideias materializam-se, como nunca, no formato de concerto. As apresentações frequentemente confessionais de Rousay deslocam o público da zona de conforto. Diálogos inesperados (que incluem interações com a audiência via Air Drop) ou gravações inusitadas no momento, fazem parte de toda uma magia de assistir aos momentos quase-ritualistas que proporciona ao vivo. Em suma, chance imperdível de ver uma das maiores neste instante cronológico. NA
Abertura de Portas
21h30